Ciclo da Lã
A lã de ovelha sofreu uma desvalorização considerável nas últimas décadas. Mas a realidade era bem distinta até inícios da década de 90 do século XX, quando a lã e as peles (que não se usavam em casa) eram vendidas a um preço rentável.
A lã destes rebanhos teve noutros tempos um contributo significativo para a produção lanar nacional. Do ponto de vista industrial dá-se a estas lãs a designação de “lãs Churras”, por se tratar de lãs de qualidade inferior para a confeção de vestuário.
Depois de lavadas e enfardadas eram exportadas, destinando-se fundamentalmente ao isolamento térmico e acústico de edifícios. Apenas uma fração insignificante das lãs produzidas permanecia na região, destinando-se ao consumo doméstico para o fabrico de meias e outras peças de vestuário, mantas, cobertores e tapetes. Neste consumo tiveram origem ofícios tradicionais como a fiação manual (com roca e fuso de suspensão ou em torno) e a tecelagem.
Uma das utilizações de grande importância da lã era o fabrico de burel, tecido altamente resistente, confecionado no tear e posteriormente batido no pisão. Com ele se faziam as tradicionais capas de honra Mirandesas e outras peças de vestuário.
**Texto em Língua Portuguesa**
La lhana de canhona passou a baler muito menos nas últimas dezenas d’anhos. Mas las cousas éran bien çfrentes anté l ampeço de ls anhos 90 de l seclo XX, quando la lhana i las çamarras (las pieles) – que nun s’ousában an casa – éran bendidas a bun précio.
La lhana destes ganados, noutros tiempos, cuntou muito para la porduçon de lhana nacional. De l punto de bista andustrial, estas lhanas cháman-se “lhanas churras”, por bias de se tratar de lhanas de culidade más fraca para fazer roupa.
Apuis de lhabadas i anfardadas, mandában-se para l strangeiro, subretodo para serbir ne l eizolamiento térmico i acústico de las casas. Solo ua parte pequeinha de la lhana quedaba na region, serbindo para fazer miotes i outras pieças de roupa, mantas i tapetes. Nestes trabalhos, nacírun artes tradecionales, cumo tal, l filar a la mano (cun ruoca i fuso, de çpindurar ou an torno) i ls telares.
Ua de las cousas más amportantes para que serbie la lhana era fabricar l burel, panho mui rejistente, fazido ne l telar i apuis batido ne l pison. Cun el se fazien las tradecionales Capas d’Honra Mirandesas i outras pieças de roupa.
**Texto em Língua Mirandesa**
O processo
O pastoreio
O pastoreio tradicional de ovinos implica o acompanhamento diário dos animais, num sistema de maneio conhecido como “pastoreio de percurso” onde o pastor guia os animais para os locais escolhidos, selecionando a sua alimentação (maioritariamente constituída por vegetação espontânea), não ultrapassando por norma os limites da aldeia a que pertence.
As raças autóctones têm as vantagens de adaptação ao meio e às condições climáticas, resistência aos longos percursos que, em termos médios, oscilam entre 4 a 6 km diários, a capacidade de aproveitamento dos pastos ao longo do percurso e a qualidade da produção.
A tosquia
Dependendo da região e das condições climatéricas, a tosquia tem lugar entre os meados e o fim da Primavera, geralmente nos meses de maio e junho.
Tem como objetivo libertar as ovelhas do calor produzido pela lã nos meses quentes do Verão. Pode ser executada de forma manual com recurso a tesouras específicas para o efeito, ou com recurso a máquinas eléctricas.
Consiste em cortar rente à pele a lã dos animais de forma contínua, aproveitando a fibra no seu comprimento máximo. Dá-se o nome de velo à totalidade da lã que se obtém da tosquia de cada animal.
Seleção e Lavagem
Nem toda a lã produzida pelos animais tem aproveitamento. A lã proveniente do lombo do animal é geralmente a de melhor qualidade por ser mais comprida, a das partes inferiores, por ser demasiado curta não é aproveitada.
O velo dos animais está impregnado de uma substância gordurosa (lanolina) comummente designada de suarda. A sua lavagem implica a imersão em água bem quente onde repousa até que arrefeça. Esta etapa permite dissolver e retirar a lanolina e a sujidade da lã.
De seguida era lavada em rios, ribeiras ou tanques, onde se retiravam impurezas como restos de vegetação das camas do gado e das pastagens.
Carbenar
Esta operação consiste em abrir as fibras de lã com os dedos, a partir da base onde estão mais agarradas, de forma a soltá-las da compactação sofrida durante o processo de lavagem. Ajuda ainda a remover impurezas como pequenas palhas e outra vegetação que permanecem mesmo depois do processo de lavagem.
Cardar
O processo de cardar tem como finalidade escovar a lã de forma a torná-la mais uniforme para que produza um fio homogéneo, sem irregularidades. É executado utilizando duas cardas que são constituídas por um par de escovas de madeira com dentes de metal, específicas para esta finalidade. A porção de lã que sai das cardas tem a designação de pasta.
Fiar
Fiar consiste no processo de transformação da pasta difusa de lã em fio. Depois de saída das cardas, a lã é enrolada na forma de um manelo que é então preso na roca. Com o auxílio de um fuso de suspensão, a lã vai sendo transformada em fio por movimentos de torção. À medida que ganha comprimento o fio vai sendo enrolado no fuso, acumulando-se na forma de uma maçaroca.
Torcer
Depois de fiado, o fio pode ser já utilizado, dependendo do fim a que se destina. Mas pode também ser torcido para que se torne mais resistente, ou juntarem-se dois fios para que se torne mais grosso. Assim, podem juntar-se dois fios que são torcidos no mesmo fuso em que se fiou, ou então num torno, que para além de torcer e juntar fios, pode ainda ter a função de fiar a lã de forma mais grosseira para determinados fins.
Meadas
Quando o fio está terminado, sendo ou não torcido, é necessário transformá-lo em meadas para que possa ser lavado.
Esta operação é executada num mecanismo de madeira de quatro braços que por força da ação giratória transfere o fio da maçaroca para a forma de meada.
Dobar
Operação que consiste em transformar as meadas, depois de lavadas, em novelos. Utiliza-se para o efeito uma dobadoura, dispositivo giratório feito também em madeira com quatro braços onde se encaixa a meada. Pega-se numa ponta do fio que vai sendo enrolado à mão na forma de um novelo à medida que vai saindo da ação giratória da dobadoura. Finda esta fase, os fios estão prontos para serem utilizados em trabalhos de malha e em tecelagem.